4.11.08

Mais Portugais

Sigo lendo e relendo Casimiro de Brito, grande poeta português, que também é romancista, ensaísta e contista. A antologia poética dele faz parte da Coleção Ponte Velha, da editora Escrituras, e é mais um dos meus (muitos) livros de cabeceira. Na verdade faço dos livros de poesia (especialmente de poetas portugueses) meus travesseiros. Na poesia lusa que me chega não percebo alguns vícios de certos vezos brasileiros. Prefiro o lírico cotidiano dos melhores poetas portugueses contemporâneos às esquisitices ou ironias pós-moderninhas de vários poetas-pop, essa nova praga virtual.

Um outro escritor português cujos dons literários me impressionam é o romancista M. Gonçalo Tavares. Li Jerusalém e fiquei muito impressionado. Tem um livro novo dele na praça, bem como o anterior, que eu perdi. Vou ver se ainda consigo encontrá-los e depois comento aqui.

Por hoje, fiquem com um poema do Casimiro de Brito:

AMOR SOLAR

Cansado dos homens afasto as nuvens
Em busca de uma paz de árvore onde eu possa
Beber em paz e em paz
Construir o meu ninho. Ali
No tronco mais silencioso da grande casa
Não sou cidadão de país nenhum
Pai de nenhuma família
Sou apenas o cão mais humilde
Do mundo que há para além do mundo
Onde se medem ao milímetro
O bem e o mal. Nesse pátio
Já não estou afastei-me
Quando perdi o sentido do peso
E das medidas - quando alguém me disse
E eu vi
Que numa gota de vinho há dez mil anos
De amor solar.