31.10.05

ELVIS NÃO MORREU

Gordo e decrépito, apresentava-se todas as noites num cassino deprimente de Las Vegas. Tinha se tornado um mero fantasma, eternamente assombrado pelas glórias do passado. As pessoas que iam vê-lo cantar, sequer cogitavam que aquele velho balofo horroroso pudesse ser o eterno Rei do Rock. Confundiam-no com mais um de seus ridículos clones. Uma centena de imitadores de araque - todos igualmente gordos e vestidos de terno branco com lantejoulas – se apresentavam naquela cidade. O pior é que os sósias pareciam muito mais convicentes no papel dele mesmo. Suas apresentações eram vaiadas sempre. Numa noite de fúria, ele espatifou uma guitarra no palco a la Jimi Hendrix depois atirou os pedaços na platéia ensandecida, mandando tomarem naquele lugar. Talvez inspirado pela audácia do emergente punk inglês. Foi demitido e encheu a cara numa espelunca qualquer. Com rancor, viu uma cópia fajuta sua se apresentar no pequenino palco e sair aplaudida por todos. Havia anos que ele não era mais aplaudido, apesar de ser o verdadeiro e único Rei. No estacionamento, espancou o gorducho de surpresa, quando este se encaminhava para o carro e o tal sujeito morreu do coração. Roubou os documentos alheios e jogou-o na mala traseira do carro. Levou o cadáver para sua mansão, Graceland. Depositou-o no chão do quarto, a boca espumante, os olhos vidrados. Partiu para sempre, assumindo a identidade de sua própria cópia. Décadas depois, convidado pela produção do programa Extreme Makeover submeteu-se a uma operação de redução do estômago. Aproveitou e exigiu também uma tranformação completa, incluindo mudança de sexo, injeção de silicone nos seios e implante de vasta cabeleira alourada. Hoje, mais conhecido como a Rainha do Rock, aplica botox trimestralmente e se apresenta em boates gays cantando versões remix para seus velhos e imorredouros hits.

20.10.05

CENAS MUITO BOAS DE FILMES MUITO RUINS

Cobra (1986), de George P. Cosmatos

Silvester Stalonne é Mario Cobretti, um policial niilista com ímpetos trucidantes na cola de um Serial Killer meio pinel. Não importa a trama, rasa e bocó. O barato é uma única cena do filme, totalmente genial, que faz uma síntese do cinema truculência do qual Stallone é o ícone mor. Trata-se da cena em que Stallone e a lesbian chique Brigitte Nielsen estão numa lanchonete, calados. Brigitte está comendo. Um hambúrguer bem gordurento. Ela pega o vidro de catchup e derrama muito molho vermelho por cima. Nojenta. Stallone faz cara de repulsa. E nós também. Trata-se de uma evidente metáfora metalingüística. O filme parodia seus próprios abusos de ultraviolência. O excesso de catchup do hambúrguer prepara-nos para o repulsivo banho de sangue do seu desfecho. Nota dez!

Superman II (1980), de Richard Lester

A segunda versão do SuperHomem no cinema deve ser vista como uma comédia desbragada. Nada involuntária. Numa cena antológica, descem três extraterrestres na Terra, num interiorzinho do mato lá pelos cafundós dos EUA. Aí um caipira típico vê os seres alienígenas com aquelas roupas esquisitíssimas e um ar de doidões e solta essa pérola: “Já sei, vocês são de Nova York”, reação instintiva do jeca americano aos costumes e indumentárias dos mudernos da Ilha de Manhattan...

13.10.05

VÁ AO TEATRO - MAS NÃO ME CHAME

Resolvi assistir ao famoso Espetáculo do Crescimento. Sentei-me bem na frente, para poder conferir tudo de perto. As luzes se apagaram, ou foram roubadas, sei lá. Cortinas vermelhas se abriram. Muitos aplausos da platéia. Mas os atores políticos logo se revelaram uns canastrões. E o cenário social desenhado ao fundo me pareceu desastroso. Como nas peças de Beckett, nada acontecia em cena. E apesar do título, não vi nada em crescimento durante todo o espetáculo, a não ser as vaias do público. Com o correr da farsa, totalmente confusa e canhestra, a platéia foi ficando cada vez mais revoltada. Começaram a atirar tomates e ovos podres nas estrelas petistas mais famosas. O diretor resolveu subir ao palco. Era um barbudinho totalmente de pileque e ainda mais petulante que o Gerald Thomas. Ele vociferava furioso: “Vocês vão ter que me engolir!”. Fui embora antes de ver o fim. Achei o tal Espetáculo do Crescimento muito do mixuruca.

12.10.05

SÓ SEI QUE NADA SEI

Assim como o filho de Dona Canô, tenho fama de ser um grande deformador de opinião. Talvez seja a caixa d’óculos que me dê pinta de intelectual. O fato é que as pessoas costumam me consultar sobre o assunto mais disparatado possível em voga como se eu sempre tivesse alguma coisa muito inteligente a dizer sobre o troço. O resultado em 99,9% das vezes é que decepciono. Nada tenho a dizer sobre espiritismo, estruturalismo, desconstrucionismo, candomblé, bumba-meu-boi, desfiles de moda, discos de Charlie Brown Junior, músicas do Carlinhos Brown, romances de Sarney. Ignoro tudo isso. Em geral digo: “Não sei e tenho raiva de quem sabe!”, dou pernada e salto de banda.