17.12.05

O porte elegante não nos prende
como esse olhar perdido
partido
entre o negro e o branco
paralisante
quase de medusa.
O olho cego é que nos vê
Em sua perturbadora intuição do vazio
De todas as eras equívocas
passadas presentes futuras.
Magra aristocrata
Caolha e rainha.
De uma beleza seca
majestade semicega
perfeita em sua imperfeição
de esfinge egípcia.

Não apenas a obra, mas o suporte. Não somente uma representação de algo mas a sustentação da coisa toda, uma base, uma coluna, uma raiz, um umbigo: uma ligação com o mundo. Não apenas a escultura em si mesma, mas a extensão das coisas. Qual o alcance de uma obra de arte? Somos nós o seu prolongamento lógico? Onde ela finda, em nós ou em seus materiais? O seu lugar preciso onde fica? Que é a escultura? O que estabelece os seus limites? Como encaixá-la em nossa percepção? Há tantas questões que Brancusi deixa em branco quanto há pontos de interrogação caídos no vazio em nossa marcha...

21.11.05

Decepção no escurinho

Fui assistir Cidade Baixa, filme brasileiro superelogiado pela crítica. Pfui. A camisa-de-força é um item que nunca sai de moda no guarda-roupa dos nossos críticos. Pior que estes, os cineastas brasileiros, uma gente rica, bem nascida, com mania de contar vida de pobre em seus fimes. Os três personagens principais são todos interpretados por atores classe-média, cujo jeito de ser e de falar corretamente transmitem um refinamento e uma boa educação inadequados aos personagens, que afinal são baianos de cais do porto com um pé na marginalidade. Falta um toque de vulgaridade no filme, inerente à miséria. Soa falso. É como por um daqueles meninos boas-pintas de Malhação para interpretar o papel de Pixote, de Hector Babenco. Ou: uma inadequação só. Prefiro o método Pasolini, pegando gente do povo pra fazer papéis de gente do povo. Estou cansado da empulhação do nosso cinema, adotando uma linguagem visual que faz alarde, mas que não fala a sua própria língua.

16.11.05


KILL KILL KILL

Tem dias que acordo de mal com o mundo. Sei que foda-se não é a única coisa que temos para mostrar, como cantam as meninas do Cansei de Ser Sexy. Ódio, Ódio, Ódio, I'm sorry. Mas sou semi-inofensivo. Não consigo maltratar uma mosca. As danadas são muito ligeiras. Luto para não entrar numa confusão. Pago uma boiada por um pouco de sossego. Mas as confusões me perseguem. Sofro do mal-estar da civilização. Não tem remédio. Ser um homem sintonizado com seu tempo é ser um neurastênico. Ou um esquizo. Um histérico. Um narcisita infantilizado, enfim. Ser assim deslocado e inadequado. Odeio quem diz que a arte é uma terapia. Como se a arte fosse um tipo de eletrochoque. A literatura não me serve nem como escape. Para mim é um enfrentamento de questões muito sérias, que me perturbam. E por razões não apenas estéticas, estou sempre insatisfeito. Principalmente comigo mesmo. Certos dias incertos, como hoje por exemplo, tenho vontade de exterminar todas as moscas. Mas elas fogem velozes dos meus golpes de espada. Tenho que praticar mais.

11.11.05

A de AMOR

A única diferença entre desatino e destino é uma mísera vogal.

IGNONÍMIA

Coberto de opróbio, correu ao dicionário.

FOME ZERO (à maneira de Maria Antonieta)

Se não tem pão, que comam broches. Do PT.

A VOLTA DA CENSURA

Quando Lula falou em criar um órgão para calar a imprensa, tive vontade de amordaçá-lo.
TUDO ERADO

Teem dias qu e tudo dà errado. Agente tenta fazer as coisas dreito e nanda sai como panejamos. Batemos a caberça poraí e o resultado é, este. O Incerto pelo duvidozo. Viver é mutou compleoicado. Msesmo.

6.11.05


NECAS DE PTBIRIBA

Companheiros, agora não tem outro jeito. A única saída é negar tudo. Negar, negar, negar de pés juntos. Até a hora da morte. Não sei de nada. Nunca vi nada. Nunca fiz nada. Não fui eu não. Não sei quem foi. Não sei porquê foi. Nem como foi. Não disse isso aí não. Essa não é a minha voz. Não conheço. Nunca nos apresentaram. Jamais conversamos. Nunca vi mais gordo. Não é meu. Não é deles. Nem sei quem são eles. Desconheço. Ignoro. Nunca ouvi falar. Isso pra mim é novidade. Vocês estão enganados. Nego o que disserem a meu respeito. É tudo mentira. Tudo uma farsa. Uma armação das elites e da imprensa. Vocês vão ter que me engolir. Continuo a dizer que não sei, nunca soube, nem saberei de nada. E tenho raiva de quem sabe. Eu não. Eu nunca. Eu uma pinóia. Que presidente? Que deputado? Que publicitário careca? Que conta secreta, que depósito fantasma? Que caixa dois? Que coisa nenhuma. Que nada. Não sei onde fica. Nunca fui lá. Nunca vi essa senhora antes. Que motel, que nada. Que fotos? Esse aí, peladão, não sou eu. Não são meus esses dólares na cueca. Aliás, não é minha essa cueca. Nem essa mala recheada. Não é minha essa assinatura. Não são minhas estas palavras que estou usando. Mensalão? Eu juro que não. Partido? Trabalhadores? Nem sei de que se trata. Banco do Brasil? Brasil??? Que país é esse?

5.11.05

CORRENDO O GRANDE RISCO DE SOAR RIDÍCULO

Conheço pouco, pouquíssimo, absolutamente quase nada da obra da poetisa Adília Lopes. Mas bato palmas para essa senhora quando ela reivindica para si o “risco do ridículo” ao escrever. Pode-se dizer que toda a Literatura contemporânea corre sempre esse risco. Parece que qualquer escritor hoje está sempre prestes a cair num abismo. Ou no ridículo. Às vezes cai em ambos. Isso explica porque a literatura de Clarice Lispector, antes considerada narcisista, fragmentada, hoje é avaliada com seriedade, como expressão da pós-pós-modernidade, um verdadeiro abismo sem fim que abriga as mais variadas e disparatadas tendências. Isso explica João Gilberto Noll, Pedro Juan Gutierrez e Marcelo Mirisola. Isso explica a mim mesmo. Que estou sempre me exercitando no ridiculês das minhas idéias nada a ver.

4.11.05


WHITE LIGHT WHITE HEAT

Abençoada seja a Internet. God Bless the e-mule! Afinal, não é todo dia que você consegue baixar as imagens de um show do lendário Velvet Underground (Lou Reed, John Cale e Nico) no Bataclan, de Paris. Com belíssimas versões para "Waiting For My Man" e "Heroin", o trio dá uma senhora banana a Doug Yule, que arrastava o nome da banda pela lama nos EUA naquela mesma época. O final da apresentação deles é simplesmente matador: Nico canta maravilhosamente o clássico "Femme Fatale", acompanhada por Lou Lou e Cale. Emocionante. Lindo. Fabuloso... OOOOpa, babei na camisa.

31.10.05

ELVIS NÃO MORREU

Gordo e decrépito, apresentava-se todas as noites num cassino deprimente de Las Vegas. Tinha se tornado um mero fantasma, eternamente assombrado pelas glórias do passado. As pessoas que iam vê-lo cantar, sequer cogitavam que aquele velho balofo horroroso pudesse ser o eterno Rei do Rock. Confundiam-no com mais um de seus ridículos clones. Uma centena de imitadores de araque - todos igualmente gordos e vestidos de terno branco com lantejoulas – se apresentavam naquela cidade. O pior é que os sósias pareciam muito mais convicentes no papel dele mesmo. Suas apresentações eram vaiadas sempre. Numa noite de fúria, ele espatifou uma guitarra no palco a la Jimi Hendrix depois atirou os pedaços na platéia ensandecida, mandando tomarem naquele lugar. Talvez inspirado pela audácia do emergente punk inglês. Foi demitido e encheu a cara numa espelunca qualquer. Com rancor, viu uma cópia fajuta sua se apresentar no pequenino palco e sair aplaudida por todos. Havia anos que ele não era mais aplaudido, apesar de ser o verdadeiro e único Rei. No estacionamento, espancou o gorducho de surpresa, quando este se encaminhava para o carro e o tal sujeito morreu do coração. Roubou os documentos alheios e jogou-o na mala traseira do carro. Levou o cadáver para sua mansão, Graceland. Depositou-o no chão do quarto, a boca espumante, os olhos vidrados. Partiu para sempre, assumindo a identidade de sua própria cópia. Décadas depois, convidado pela produção do programa Extreme Makeover submeteu-se a uma operação de redução do estômago. Aproveitou e exigiu também uma tranformação completa, incluindo mudança de sexo, injeção de silicone nos seios e implante de vasta cabeleira alourada. Hoje, mais conhecido como a Rainha do Rock, aplica botox trimestralmente e se apresenta em boates gays cantando versões remix para seus velhos e imorredouros hits.

20.10.05

CENAS MUITO BOAS DE FILMES MUITO RUINS

Cobra (1986), de George P. Cosmatos

Silvester Stalonne é Mario Cobretti, um policial niilista com ímpetos trucidantes na cola de um Serial Killer meio pinel. Não importa a trama, rasa e bocó. O barato é uma única cena do filme, totalmente genial, que faz uma síntese do cinema truculência do qual Stallone é o ícone mor. Trata-se da cena em que Stallone e a lesbian chique Brigitte Nielsen estão numa lanchonete, calados. Brigitte está comendo. Um hambúrguer bem gordurento. Ela pega o vidro de catchup e derrama muito molho vermelho por cima. Nojenta. Stallone faz cara de repulsa. E nós também. Trata-se de uma evidente metáfora metalingüística. O filme parodia seus próprios abusos de ultraviolência. O excesso de catchup do hambúrguer prepara-nos para o repulsivo banho de sangue do seu desfecho. Nota dez!

Superman II (1980), de Richard Lester

A segunda versão do SuperHomem no cinema deve ser vista como uma comédia desbragada. Nada involuntária. Numa cena antológica, descem três extraterrestres na Terra, num interiorzinho do mato lá pelos cafundós dos EUA. Aí um caipira típico vê os seres alienígenas com aquelas roupas esquisitíssimas e um ar de doidões e solta essa pérola: “Já sei, vocês são de Nova York”, reação instintiva do jeca americano aos costumes e indumentárias dos mudernos da Ilha de Manhattan...

13.10.05

VÁ AO TEATRO - MAS NÃO ME CHAME

Resolvi assistir ao famoso Espetáculo do Crescimento. Sentei-me bem na frente, para poder conferir tudo de perto. As luzes se apagaram, ou foram roubadas, sei lá. Cortinas vermelhas se abriram. Muitos aplausos da platéia. Mas os atores políticos logo se revelaram uns canastrões. E o cenário social desenhado ao fundo me pareceu desastroso. Como nas peças de Beckett, nada acontecia em cena. E apesar do título, não vi nada em crescimento durante todo o espetáculo, a não ser as vaias do público. Com o correr da farsa, totalmente confusa e canhestra, a platéia foi ficando cada vez mais revoltada. Começaram a atirar tomates e ovos podres nas estrelas petistas mais famosas. O diretor resolveu subir ao palco. Era um barbudinho totalmente de pileque e ainda mais petulante que o Gerald Thomas. Ele vociferava furioso: “Vocês vão ter que me engolir!”. Fui embora antes de ver o fim. Achei o tal Espetáculo do Crescimento muito do mixuruca.

12.10.05

SÓ SEI QUE NADA SEI

Assim como o filho de Dona Canô, tenho fama de ser um grande deformador de opinião. Talvez seja a caixa d’óculos que me dê pinta de intelectual. O fato é que as pessoas costumam me consultar sobre o assunto mais disparatado possível em voga como se eu sempre tivesse alguma coisa muito inteligente a dizer sobre o troço. O resultado em 99,9% das vezes é que decepciono. Nada tenho a dizer sobre espiritismo, estruturalismo, desconstrucionismo, candomblé, bumba-meu-boi, desfiles de moda, discos de Charlie Brown Junior, músicas do Carlinhos Brown, romances de Sarney. Ignoro tudo isso. Em geral digo: “Não sei e tenho raiva de quem sabe!”, dou pernada e salto de banda.

24.9.05

A Obra-Prima Ignorada

“Quem dera ser um peixe
Para em teu límpido aquário mergulhar
Fazer borbulhas de amor pra te encantar.
Passar a noite em claro
Dentro de ti.”

Isso é que é exemplo de Poema Sujo! Aposto com vocês que Ferreira Gullar ainda será lembrado daqui a duzentos anos pela brava gente brasileira única e exclusivamente pela força poética dos inesquecíveis versos acima, entoados pelo gogó de Raimundo Fagner. Quem viver até lá, verá. Ainda que esteja completamente esclerosado.
A Verdade está lá fora... e as Mentiras também

Tenho um conhecido meio pinel que não chega a rasgar dinheiro, mas que acredita e afirma que marcianos ocupam altos cargos nos governos, assim como crê que o capitalismo seja uma invenção de chupa-cabras megacorporativos. Na minha opinião, a descrença na competência intelectual do ser humano é até óbvia, e leva a achar que só os aliens são capazes de inventar uma bomba capaz de destruir meio mundo. Basta observar diretamente o comportamento de líderes mundiais, como Bush e Lula-lá no exercício do poder, para esculhambar o Homo Sapiens como espécie.

Mas é um evidente absurdo esse boato de que seres extraterrestres são os reais responsáveis pelos grandes saltos tecnológicos da humanidade. A crer nisso, o Bill Gates não passaria de um ser desengonçado e feioso que fica repetindo “E.T. phone home”. (Se bem que vendo qualquer foto do homem, não deixamos de cogitar a possibilidade). Para seguidores de uma tal crença, a história não passa de uma grande conspiração alienígena, nos moldes da série Arquivo X, ou meio como a comédia Homens de Preto sendo levada totalmente a sério. Ora, direis, ouvir estrelas...

22.9.05

Cotas

Finalmente! Graças ao sistema de cotas adotado pelo governo, pessoas como Machado de Assis, Pelé, Glória Maria e o ministro Gilberto Gil teriam a chance de adquirir um diploma em nível superior e com isso conquistar o seu lugar ao sol na sociedade bruzundanga.

13.9.05

O Clichê do Clichê
Acho que já vi esse filme


As autoridades são alertadas sobre um perigo iminente que ameaça destruir a cidade. Mas o prefeito não dá a mínima. Para um bom e competente político o tubarão, o Godzilla, o King Kong e o vulcão prestes a explodir são simples e evidente exageros de um cientista maluco.

O motor do carro não quer pegar justo na hora que é preciso fugir do perigo à toda. Mas pega logo depois que a platéia leva um susto daqueles. O galã (ou a galinha) entram numa louca perseguição de automóveis. O carro colide, é baleado, pega fogo, salta e se arrebenta todinho. Mesmo assim continua rodando perfeitamente como se fosse novo em folha.

Mas o vilão da história captura os heróis. Explica a eles o seu plano maligno de destruição ou domínio mundial, tintim por tintim, em vez de simplesmente matá-los a sangue frio. Os heróis conseguem as chaves e dão no pé aproveitando o cochilo do vigia. Recapturados, cabe à gostosíssima namorada do vilão a tarefa de libertar o mocinho. Trata-se evidentemente de uma sirigaita que se bandeia pro lado do bem perto do final.

Na fuga, os bandidos atiram, mas contra o mocinho toda bala é perdida. Já a pontaria do herói é infalível. A moça consegue ligar desesperada para o 911. Os policiais chegam instantes depois que ela sozinha e no muque enfrentou e matou o psicopata Serial Killer. Fora o fato que a heroína do filme é uma agente policial competentíssima cujo pai era um policial honesto morto no combate a bandidos malvados. Filha de peixe, peixa é.

O vilão é trucidado, atropelado, baleado, humilhado, capado, queimado vivo, esfaqueado e estatelado? Mesmo assim, não confie não: todo mundo sabe que ele vai se levantar do além para dar um último susto na platéia. No final, o galã sapeca um beijo de língua na mocinha ao som de uma música pop romântica e pegajosa. The End.

9.9.05

Batatinha quando nasce

Também escrevo poesia, a sério. Mas antes que me perguntem porque não posto meus poemas aqui, respondo que este blogue está reservado apenas para as minhas abobrinhas (Eu ouvi esse ufa! aí atrás). Gosto de rir sozinho (primeiro sintoma de loucura) por isso posto tantas abobrinhas solitárias. Por causa delas, já levei um baita pito de um amigo que leva muito a sério esse papo de escrever e que me recomendava não ser frívolo. Ele está certo, claro, e daria o meu braço a torcer não fosse um porém. Esse meu amigo odeia Oscar Wilde. Um mundano, disse, que nunca levava nada a sério (Meu amigo detesta qualquer autor levemente cômico). Aí, meus caros, deu bode. Pois os autores que mais admiro são irônicos ao cubo, fazem rir às bandeiras despregadas ou então provocam uma careta de riso (: Machado, Nelson Rodrigues, Proust, Cervantes, Drummond, Wilde). A obra preferida pelo meu amigo é Hamlet (Ó Horatio). Mas Shakespeare, além do príncipe emissário da morte (brrrr) também criou Fastaff, a quem estimo deveras. Sei que estou muito, muito, muito aquém da unha do dedo mínimo do pé de Oscar Wilde. Sou a escória da Literatura Bruzundanga, tanto que jamais publicarei aqui (podem suspirar aliviados agora) senão frivolidades.

Anyways, quem escreve poesia deve sempre levar em conta a advertência do Alceste, personagem de Molière, em O Misantropo:

“Senhor, é uma questão sempre delicada,
E sobre o estro poético, gostamos que nos louvem,
Mas um dia, a alguém, cujo nome calarei,
Eu disse, vendo versos de sua lavra,
Que um cavalheiro deve ter sempre muito controle
Sobre as comichões que nos dá de escrever;
Que deve refrear os grandes arroubos
Que temos de sair trombeteando tais divertimentos;
E que, no calor de mostrar nossas obras,
Nos expomos a fazer maus papéis.”

Penso que tais palavras também sirvam para quem bloga. O que importa é postar bem, senão porque postar? Há uma diferença gritante entre Proust, que com o seu gênio, escrevia sobre o tédio, e um literato engenhoso que escrevendo só provoque tédio. Postar pode até ser uma necessidade de quem bloga, mas ninguém mais necessita ser torturado pela ruindade do que lê, a não ser os leitores masoquistas, que encontram satisfação nas páginas do Marquês de Sade, de Harry Potter ou deste blogue aqui.
The silence of the Lambs:


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Ou: Ninguém posta, ninguém gosta. Ai. Ai. Talvez seja preciso trocar o desodorante vencido do meu blogue, ou incluir fotos de gente pelada e falar de sexo - esse m.d.c. do povo brasileiro. Urdo palavras na calada da noite e o povo todo surdo, calado. Alguém aí pelo menos vaie ou jogue um tomate, please...

Tempo Perdido

Marcel Proust, dizem, vivia fazendo aquilo que o tropicalista baiano chama de uma “profusão de paródias”. Não, leitor assanhado, não se trata de séquiço. O Proust inicial tentava encontrar a própria e personalíssima voz, praticando exercícios de estilo, como o Ruy Goiaba faz com as divertidas blagues de seu blogue. Proust, a quem não faltava bom humor, pastichava os estilos de diversos outros escritores. Alguns porque os detestava, como Saint Bevue, sobretudo pelas idéias, e outros por admirá-los profunda e ambiguamente, como aos irmãos Goncourt. Essa busca de uma voz e de luzes próprias precede a versão conhecidíssima (por quantos, hoje?) de "Em Busca do Tempo Perdido" (que o autor pretendia revisar e modificar, mas acabou morrendo antes) e revela-se fascinante. Começa com o livro “Os Prazeres e os Dias” e avança por outros, inacabados. Todos eles funcionam como uma prévia da obra-prima que se esboçava. Adoro lê-los e relê-los, mas não farei como um certo colunista que trabalha na Ilha da Fantasia (gritando o avião, o avião!), e que uma vez, em sua calúnia social para jovens dourados, citou a “Busca” chamando-a de Best-Seller. Para os filisteus e os filistinos da mesma laia não recomendo a leitura de Proust. Os volumes de Sidney Sheldon ou Barbara Cartland já tão muito bão.

8.9.05

A minha mulher não existe

Folheando as divertidas páginas de Época, Edição Especial Mulher, lembrei-me de Lacan e da sua ousada afirmação de que "A mulher não existe", embora a simples presença de Scarlett Johanson num filme me faça correr para assisti-lo. Lacan foi um pseudo dos mais influentes. Hoje todos os psicoanais retentivos são lacanianos, pelo menos na hora da cobrança em verdinhas por décimos de segundo de consulta. Um dia ainda veremos algum publicitário lacaniano negando a existência das gordinhas da Campanha da Dove antes que elas se empolguem demais e pensem que representam "a mulher de verdade", que se não me equivoco era a Amélia, aquela que além de não possuir a menor vaidade, fazia o homem gemer sem sentir dor.



7.9.05

O lado B da MPB


“O que eu penso a respeito dos homens/ é estranho” (Nenhum de Nós)

“Vamo comer, vamo comer Caetano” (Luiz Melodia)

“Deu pra ti/ Alto astral” (Kleyton e Kledir)

“Dois homens apaixonaaaaados...” (Djavan)

“Cê vai na frente/ que eu vou atrás/ e atrás de mim/ um outro rapaz” (Leo Jaime)

“Cansado de correr atrás/ de um beijo de namorada/ Eu sou mais um cara” (Cazuza)

“Teu corpo é o meu espelho/ e em ti navego” (Renato Russo)

“Pois quando tu me deste a rosa pequenina/Vi que és um homem lindo” (Caetano Veloso)

“Eu sempre pensei que o amor/ era uma coisa mole” (Lulu Santos)

“Eu passei muito tempo/ aprendendo a beijar/ outros homens” (Gilberto Gil)

“Lá vem o guarda/ Guarda./ Lá vem o tira/ Tira, meu bem” (Luiz Caldas)


Todos os versos acima, extraídos de hits de alguns dos mais famosos medalhões da MPB, servem para provar por A + B que o babado forte não é uma exclusividade da tchurma de Erika Palomino.
Sendo fiel a nosso lema:

"Hay que endurecer-se pero sin perder la ternura jamas" (Che Guevara),

hei de sempre contrabalançar minhas pesadas abobrinhas postando também alguns poemas e fragmentos de inegável candura. É bom que haja um certo equilíbrio das coisas. Quando o nível do besteirol estiver muito elevado, a ponto de quase inundar este blogue como se fosse a pobre cidade jazzística de New Orleans, prometo postar aqui algumas palavras de Fernando Pessoa, Octavio Paz ou Mario Quintana.

Este poema é absolutamente desnecessário

Este poema é absolutamente desnecessário
pela simples razão de que poderia nunca ser escrito
e ninguém sentiria a sua falta
Esta é a sua liberdade negativa a sua vacuidade dinâmica
e o movimento da sua abolição
a partir do seu vazio inicial
Mas qual é a sua matéria qual o seu horizonte?
Traçará ele uma linha em torno da sua nulidade
e fechar-se-á como uma concha de cabelos ou como um
[útero do nada?
Ou será a possibilidade extrema de uma presença inesperada
que surgiria quando chegasse a essa fronteira branca
que já não separaria o ser do nada e no seu esplendor absoluto
revelaria a integridade do ser antes de todas as imagens
a sua violência inaugural a sua volúvel gestação?

António Ramos Rosa (1924 - ...). Outro magnífico poeta português que publico aqui para sanitizar um pouco este blogue , principalmente após postar o lixo aí debaixo.
Minha terra tem palmeiras

Já me perguntei se havia algo de errado com a água consumida na Ilha dos Loompa-Loompa para que produzíssemos tantos poetas, alguns insuperáveis, como os srs. Nauro Machado e Ferreira Gullar, e outros, insuportáveis, como os srs. Luís Augusto Cassas e Emílio Ayoub, sendo este último o autor de versinhos inesquecíveis que acabo sempre esqucendo, mas que mereceriam figurar em uma boa antalogia poética que reunisse seus textos mais antalógicos entre aqueles grafitados em cores vivas pelos muros da ilha. Não sei não, mas desconfio que estejam certas as palavras de Samuel Beckett, que uma vez interpelado por que surgiam tantos poetas na Irlanda, saiu-se magnificamente: “Numa terra que vive sendo enrabada por padres e soldados o povo tem mais é que cantar”. Bingo! Só precisaríamos substituir padres e soldados pelos Sarneys e voilá! Passaremos a compreender o milagroso fenômeno da multiplicação dos aedos nas terras de Sousândrade.

6.9.05

Mamãe, quando eu crescer, quero ser imortal

Agora que vesti a casaca de bloguetrotter, e finalmente acumulo uma multidão fanática de leitores (quatro, pelos meus cálculos, isso se me contar entre eles) tornam-se menos improváveis as minhas possibilidades de concorrer a uma vaga para a ABL. Já me vejo a envergar o fardão da Academia num futuro próximo, parecido com o do filme Blade Runner, em que os menos piores já embarcaram em naves espaciais para fora deste planeta esgotado e obsoleto. Quem sabe então, quando todos os terráqueos remanescentes forem songamongas analfabetos de pai e mãe (opa, já não são?) ou replicantes desgovernados, poderei proustianamente molhar o biscoito no famoso chá da Academia, sentando-me entre o bigode beletrista de Ribamar Sarney e a barbicha esotérica do mago Paulo Coelho, ou passar horas admirando a arquitetura daqueles salões que um dia abrigaram o ditador Getúlio Vargas e o Globotrotter Roberto Marinho, entre outros grandes expoentes da admirável Literatura Bruzundanga.

A CPI dos Blogueiros

Jamais poderei fazer cara de bispo e dizer que “sou inocêncio”, como fez o José Dirceu, ou alegar que sou “do lar”, como a esposa do palhaço Carequinha. Quando me interrogarem, com um dedo acusatório em riste, virão à baila denúncias constrangedoras, como o fato de ter gostado de ouvir o Nahim cantando o “Melô do Taka Taka” no Programa Silvio Santos, ou de colecionar revistinhas do Cascão na puberdade, ou de ir a shows do Leandro e Leonardo na minha irresponsável maturidade. Nada poderei alegar em minha defesa. Mas talvez com a admissão de um passado tão sem vergonha, meus conterrâneos parem de me considerar um mero intelequitual entediante e me convidem para festas em apês onde rolem altos bundalelês e orgias.



Cream-Craker e Castigo

Cresci num tempo em que sociólogos, psicólogos, comunicólogos e outros pseudos discutiam se a televisão, com sua grade abarrotada de morticínio e violência, estimulava as criancinhas (ou não) a se tornarem versões ligeiramente moderadas de Bush, Tony Blair, Roberto Jefferson ou Osama Bin Laden. Nunca ninguém chegou a uma conclusão sobre o assunto. Penso com os botões do meu controle remoto que a agressividade seja inerente à triste condição humana, mas com isso não estou isentando a TV, esse monstro que serve para vender outros monstros. Nada melhor para contrabalançá-la do que bom senso e educação, virtudes sem as quais William Shakespeare e Sigmund Freud jamais teriam escrito suas obras completas. É a conclusão de alguém que bolava de rir enquanto o gato Tom era esmagado, queimado, explodido, empalado, atropelado, fatiado, espancado, devorado por cães, picado por abelhas, reduzido a pó de traque ou humilhado de forma abjeta pelo camundongo Jerry, mas que nem por isso sentiu ganas de pegar uma raquete para espancar a própria esposa, como as telenovelas didaticamente ensinam, embora possam contra-argumentar que nem esposa eu tenho.

Comove-me bem mais a tese dos evangélicos americanos, explicando que a devastação de New Orleans pelo Furacão Katrina deve-se a uma manifestação de fúria do Todo-Poderoso pela tolerância daquela cidade com os guêis degenerados, que vivem promovendo raves, passeatas e outros eventos de consumada boiolice. Se assim de fato for, espero que após inúmeros bailes GLS do Carnaval brasileiro, Deus, indignado com a imoralidade dos bruzundangas, resolva devastar apocalipticamente a cidade de Brasília, antro de luxúria e corrupção, ou no mínimo risque do mapa a Ilha de Curupu, que abriga Dom Bigode, um cavalheiro com várias manchas em seu passado político.
Chega um momento
em que somos aves na noite,
pura plumagem, dormindo de pé,
com a cabeça encolhida.
O que tanto zelamos
na fileira dos dias,
o que tanto brigamos
para guardar, de repente
não presta mais: jornais, retratos,
poemas, posteridade.
Minha bagagem
é a roupa do corpo.

Fabrício Carpinejar (1972 - ), Cinco Marias. Para lembrar que arte contemporânea não é só porco fatiado ao meio em recipiente repleto de formol.

5.9.05

Vida após a morte?

Nunca vi um defunto levantar para tomar um bom banho, ler Proust, espirrar ou beber um café. Só acredito na morte após a morte.


Anatomia é destino

As mulheres, segundo Sigmund Freud, sentem inveja do pênis. Mas nem todo pênis desperta inveja. E Freud não menciona as bolas. Mulher nenhuma, que eu saiba, inveja um chute no saco.


Plim-plim

A tevê também oferece alguns momentos altamente inteligentes. Um deles é o momento de desligar a tevê.


Perto do Capitalismo Selvagem

EUA, Japão, Índia, China... O mundo inteiro persegue o lucro. Mas no Brasil não é bem assim. As pessoas “correm atrás do prejuízo”.


A educação segundo Paulo Freire

Não escreveu, não leu, nem o pau comeu.


O lema do Cinema Brasileiro

“Um financiamento da Embrafilme na mão e nenhuma idéia na cabeça.”
Vai rolar Bundalelê

A Ilha dos Loompa-Loompa nunca mais será a mesma após abrigar o show daquele rapaz que botou pra fora, na revista G Magazine, todos os seus dotes artísticos. O mesmo cantor que, até outro dia, divertia-se fazendo festa no apê de Kelly Key.

Latino - um dos grandes nomes da moderna MPB - apresenta-se sexta-feira na Expoema, megaevento pop de um bucolismo cativante, e que, este ano, abre o seu palco para o trabalho de artistas instigantes e renomados como os Calcinhas Pretas, a Banda Calypso e o Psirico.

Tais medalhões do nosso rico cancioneiro popular só correm um risco: o de serem empanados pelo brilho das maiores estrelas presentes, os touros e as vacas premiadas. Chiquérrimos, tranqüilamente expostos em pavilhões amplos e iluminados, estes seres privilegiados valem uma fortuna e são objetos da admiração geral sem precisarem soltar um mísero “muuu” para a massa ignara.
O Filme é uma merda, mas o diretor é um Gênio

E não é que o MasterCard, em sua nova promoção, cunhou uma frase ótima que define o cinema nacional, expressando com precisão o vazio que se apodera da pobre alma humana exposta por um tempo excessivo às nossas capengas incursões pela 7a arte?

"Ficar horas sem pensar em nada".
Não vi e não gostei

É filme nacional, portanto, das duas uma: ou não deve prestar ou então é uma merda. Em segundo lugar, é sobre a carreira de Zezé di Camargo e Luciano, dupla de breganejos das mais cafonas. Ou seja, será um sucesso estrondoso de bilheteria, com filas e mais filas de norte a sul da Bocolândia, terra em que a mais tola das obviedades é motivo do orgulho nacional. Ai, esse coqueiro que dá coco...
BALANÇA

No prato da balança um verso basta
para pesar no outro a minha vida.

Eugénio de Andrade, (1923-2005). Bardo português, que com dois versos como estes bota nas pantufas as obras completas do versejador de Marimbondos de Fogo.

4.9.05

Até que os advogados os separem

Nem todo amor acaba em casamento. Mas em todo casamento acaba o amor.


Tristes Trópicos

Se Darwin tivesse nascido no Brasil teria escrito a Teoria da Involução.


Nos bastidores do poder

Por trás de todo grande homo tem sempre um grande peru.


Big Bode Brasil

Agora basta ser um zé-ninguém pra ficar famoso.


Fui eu que fiz, fui eu, arra-ô-uou

O plagiário: um autor que vive esquecendo de pôr as aspas.


Máquina de fazer doido

A televisão é extremamente útil para a divulgação da cultura inútil.


A César o que é de César

Os teóricos da literatura são gênios – da Teoria da Literatura.


Shut up sh-sh-shut up Shut up

Em boca fechada não entra mosquito. Em compensação, calado, engole-se cada sapo...


O Dono do MA

Nem todo homem é uma ilha. José Sarney, por exemplo, é o proprietário de duas: São Luís e Curupu.


O lema do Cinema Novo

"Uma câmera na mão e um filme-cabeça na cabeça."


Tempos Modernos

Antigamente me pediam as horas, hoje é: passa o relógio, tio.


Só Cristo salva-se

"Quem nunca acertou no alvo que atire a primeira pedra."


A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado

Que inferno que nada. As almas dos corruptos brasileiros sobem direto para um paraíso fiscal.


A. I. (Ai!)

Esse papo de inteligência artificial não me alarma. O computador jamais superarará a burrice humana.
Introdução sem dor

Justo agora que os blogues saíram de moda, resolvi criar este, com um visual bem pobre. Mas muito limpinho.

Aviso aos navegantes: Este não é um blogue para analfabetos. Vocês não encontrarão nada aqui no idioleto idiota que meninos e meninas costumam usar hoje em dia quando postam merda nos seus blogues. Execro abreviações ágrafas tipo "vcs", "naum", "falow", "qd" "rss", "blz", "aee". Escrevo na mesma língua de Camões, Fernando Pessoa, Machado de Assis, Drummond, sem ter a mesma dicção destes, claro, mas tentando soar legível e compreensível.

Este blogue nasceu careca, feio e esperneando. Mas é um blogue cheio de amor pra dar. Logo logo vai estar bem taludinho e cheio de idéias criativas, como o seu autor.

Este blogue é muito do sem noção. Não passa de um amontoado de abobrinhas. Não espere que as coisas melhorem com o tempo. O autor é um irresponsável, que sofre agudamente de falta do que fazer.