21.11.05

Decepção no escurinho

Fui assistir Cidade Baixa, filme brasileiro superelogiado pela crítica. Pfui. A camisa-de-força é um item que nunca sai de moda no guarda-roupa dos nossos críticos. Pior que estes, os cineastas brasileiros, uma gente rica, bem nascida, com mania de contar vida de pobre em seus fimes. Os três personagens principais são todos interpretados por atores classe-média, cujo jeito de ser e de falar corretamente transmitem um refinamento e uma boa educação inadequados aos personagens, que afinal são baianos de cais do porto com um pé na marginalidade. Falta um toque de vulgaridade no filme, inerente à miséria. Soa falso. É como por um daqueles meninos boas-pintas de Malhação para interpretar o papel de Pixote, de Hector Babenco. Ou: uma inadequação só. Prefiro o método Pasolini, pegando gente do povo pra fazer papéis de gente do povo. Estou cansado da empulhação do nosso cinema, adotando uma linguagem visual que faz alarde, mas que não fala a sua própria língua.

16.11.05


KILL KILL KILL

Tem dias que acordo de mal com o mundo. Sei que foda-se não é a única coisa que temos para mostrar, como cantam as meninas do Cansei de Ser Sexy. Ódio, Ódio, Ódio, I'm sorry. Mas sou semi-inofensivo. Não consigo maltratar uma mosca. As danadas são muito ligeiras. Luto para não entrar numa confusão. Pago uma boiada por um pouco de sossego. Mas as confusões me perseguem. Sofro do mal-estar da civilização. Não tem remédio. Ser um homem sintonizado com seu tempo é ser um neurastênico. Ou um esquizo. Um histérico. Um narcisita infantilizado, enfim. Ser assim deslocado e inadequado. Odeio quem diz que a arte é uma terapia. Como se a arte fosse um tipo de eletrochoque. A literatura não me serve nem como escape. Para mim é um enfrentamento de questões muito sérias, que me perturbam. E por razões não apenas estéticas, estou sempre insatisfeito. Principalmente comigo mesmo. Certos dias incertos, como hoje por exemplo, tenho vontade de exterminar todas as moscas. Mas elas fogem velozes dos meus golpes de espada. Tenho que praticar mais.

11.11.05

A de AMOR

A única diferença entre desatino e destino é uma mísera vogal.

IGNONÍMIA

Coberto de opróbio, correu ao dicionário.

FOME ZERO (à maneira de Maria Antonieta)

Se não tem pão, que comam broches. Do PT.

A VOLTA DA CENSURA

Quando Lula falou em criar um órgão para calar a imprensa, tive vontade de amordaçá-lo.
TUDO ERADO

Teem dias qu e tudo dà errado. Agente tenta fazer as coisas dreito e nanda sai como panejamos. Batemos a caberça poraí e o resultado é, este. O Incerto pelo duvidozo. Viver é mutou compleoicado. Msesmo.

6.11.05


NECAS DE PTBIRIBA

Companheiros, agora não tem outro jeito. A única saída é negar tudo. Negar, negar, negar de pés juntos. Até a hora da morte. Não sei de nada. Nunca vi nada. Nunca fiz nada. Não fui eu não. Não sei quem foi. Não sei porquê foi. Nem como foi. Não disse isso aí não. Essa não é a minha voz. Não conheço. Nunca nos apresentaram. Jamais conversamos. Nunca vi mais gordo. Não é meu. Não é deles. Nem sei quem são eles. Desconheço. Ignoro. Nunca ouvi falar. Isso pra mim é novidade. Vocês estão enganados. Nego o que disserem a meu respeito. É tudo mentira. Tudo uma farsa. Uma armação das elites e da imprensa. Vocês vão ter que me engolir. Continuo a dizer que não sei, nunca soube, nem saberei de nada. E tenho raiva de quem sabe. Eu não. Eu nunca. Eu uma pinóia. Que presidente? Que deputado? Que publicitário careca? Que conta secreta, que depósito fantasma? Que caixa dois? Que coisa nenhuma. Que nada. Não sei onde fica. Nunca fui lá. Nunca vi essa senhora antes. Que motel, que nada. Que fotos? Esse aí, peladão, não sou eu. Não são meus esses dólares na cueca. Aliás, não é minha essa cueca. Nem essa mala recheada. Não é minha essa assinatura. Não são minhas estas palavras que estou usando. Mensalão? Eu juro que não. Partido? Trabalhadores? Nem sei de que se trata. Banco do Brasil? Brasil??? Que país é esse?

5.11.05

CORRENDO O GRANDE RISCO DE SOAR RIDÍCULO

Conheço pouco, pouquíssimo, absolutamente quase nada da obra da poetisa Adília Lopes. Mas bato palmas para essa senhora quando ela reivindica para si o “risco do ridículo” ao escrever. Pode-se dizer que toda a Literatura contemporânea corre sempre esse risco. Parece que qualquer escritor hoje está sempre prestes a cair num abismo. Ou no ridículo. Às vezes cai em ambos. Isso explica porque a literatura de Clarice Lispector, antes considerada narcisista, fragmentada, hoje é avaliada com seriedade, como expressão da pós-pós-modernidade, um verdadeiro abismo sem fim que abriga as mais variadas e disparatadas tendências. Isso explica João Gilberto Noll, Pedro Juan Gutierrez e Marcelo Mirisola. Isso explica a mim mesmo. Que estou sempre me exercitando no ridiculês das minhas idéias nada a ver.

4.11.05


WHITE LIGHT WHITE HEAT

Abençoada seja a Internet. God Bless the e-mule! Afinal, não é todo dia que você consegue baixar as imagens de um show do lendário Velvet Underground (Lou Reed, John Cale e Nico) no Bataclan, de Paris. Com belíssimas versões para "Waiting For My Man" e "Heroin", o trio dá uma senhora banana a Doug Yule, que arrastava o nome da banda pela lama nos EUA naquela mesma época. O final da apresentação deles é simplesmente matador: Nico canta maravilhosamente o clássico "Femme Fatale", acompanhada por Lou Lou e Cale. Emocionante. Lindo. Fabuloso... OOOOpa, babei na camisa.