VOZ
A pobreza da voz em tempos de escassez
nestes dias de gritos
ou de palavras atiradas a esmo ermas de sentido,
a voz despojada de tudo, até de si mesma, recolhida
ao poço da garganta negra
isolada fechada atenta
sem os papéis as funções os discursos utilitários
em que cada sílaba comercia com outras
em que as cifras salivadas
compram cigarros jornais convicções
enquanto o pensamento enamorado do silêncio
em nada confia a nada se entrega sem
previamente saber-se traído roubado perdido
pois dizer-se é sempre um erro uma subtração
ou um transbordamento
oh recolha-se a voz exausta à sua nudez
à mudez desvelada à sala calada ao dia desfeito.
Para que depois renasça a voz
em seus prazeres mais simples:
o bocejo o alento o segredo a rouquidão
o murmúrio a ironia a melodia
o palavrão o canto
antes dos contágios
antes dos clichês
antes do tirocínio
A pobreza da voz em tempos de escassez
nestes dias de gritos
ou de palavras atiradas a esmo ermas de sentido,
a voz despojada de tudo, até de si mesma, recolhida
ao poço da garganta negra
isolada fechada atenta
sem os papéis as funções os discursos utilitários
em que cada sílaba comercia com outras
em que as cifras salivadas
compram cigarros jornais convicções
enquanto o pensamento enamorado do silêncio
em nada confia a nada se entrega sem
previamente saber-se traído roubado perdido
pois dizer-se é sempre um erro uma subtração
ou um transbordamento
oh recolha-se a voz exausta à sua nudez
à mudez desvelada à sala calada ao dia desfeito.
Para que depois renasça a voz
em seus prazeres mais simples:
o bocejo o alento o segredo a rouquidão
o murmúrio a ironia a melodia
o palavrão o canto
antes dos contágios
antes dos clichês
antes do tirocínio
ante o poema.