O Quarteto de Alexandria - Lawrence Durrell
Finalmente, pela Ediouro, uma edição nacional do fabuloso Quarteto de Alexandria, a obra-prima de Lawrence Durrell. Cada volume tem um nome de personagem: Justine, Balthazar, Mountolive e Clea. A narrativa é modernista: fragmentada, descontínua, desagregada de qualquer cronologia, avança e recua livre no tempo, fundindo passado, presente e futuro. Pode-se dizer que a grande protagonista dos livros é a cidade que dá nome ao Quarteto, uma Alexandria cheia de personagens que vivem obcecados por sexo, todo tipo de sexo, embora nem seja isso o que mais se destaca no texto, e sim o clima de ironia, de sordidez, de desespero e uma gama de tudo isso junto. É um livro poderoso, por vezes terrível, de uma beleza cruel. (Não à toa: o título de "Justine" foi tirado do Marquês de Sade). Um breve trecho:
"Um camelo desabou de exaustão na rua. É pesado demais para ser levado ao matadouro. Dois homens aproximam-se empunhando um machado e ali mesmo, em plena rua, despedaçam o animal ainda vivo. Destrincham a carne branca - a pobre criatura parece cada vez mais sofrida, mais aristocrática e mais confusa quando decepam-lhe as pernas. Ao fim resta apenas a cabeça, ainda viva, com os olhos abertos, inquietos. Nenhum grito de protesto, sequer um esboço de resistência. Como uma tamareira, o animal se submete aos algozes. Nos dias seguintes, porém, a rua de terra fica encharcada com seu sangue e nossos pés descalços são marcados por essa mistura."