25.3.06

O Grande Nu, do grandioso Amedeo Modigliani

Quadro 1. Apanho tela e tintas, começo uma nova tela. Este é um sábado radiante e acordei estranhamente alegre, quase assobiando. Empologado com tons de marrom e verde, nem reparo quando o céu fica inteiramente nublado. Passa a ventar cada vez forte. Insisto na pintura, apesar da tempestade, dos relampejos e de tudo escurecer como se já fosse noite antes mesmo do meio-dia. Então o celular toca. É da companhia telefônica, fazendo a manutenção do sistema. Uma atendente paulista passa a me interromper de dois em dois minutos para fazer reparos (solicitados por mim dias atrás) na minha linha. Com os dedos sujos de tinta, mas sem a empolgação inicial, atendo. Não entendo o que fala a sujeita. Ela me atormenta numa linguagem técnica, diz para eu reparar o nível do sinal no visor e eu, confuso, aviso que desconheço aquela língua exótica. Mas o pior é que apesar de todos os telefonemas empatatantes dela, o meu celular continuou com problemas... Diazinho uó esse, ô...

Quadro 2. O filme sobre Amedeo Modigliani toma inúmeras liberdades poéticas (Amedeo morreu de tuberculose e não levando surra de rufiões) , mas o troço comove. Não por retratar romanticamente a árdua sobrevivência de pintores expatriados (Soutine, Utrillo, Rivera, entre outros) que viveram em Paris como marginais todos um tantinho excêntricos (para não dizer loucos de pedra - senso comum burguês sobre todos eles, um clichê que o filme reforça), mas vale a pena por expor a energia criativa dessas figuras geniais que competiram ferozmente entre si, revolucionando a pintura do século XX. É por recriar o fervor artístico inigualável da roda modernista e por mostrar a devoção à própria genialidade de cada grande artista ali que o filme merece uma conferida.